sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Planeta Livro: Acto de Leitura

Planeta Livro: Acto de Leitura: "Em cada acto de leitura, a irremediável alteridade do escritor e do leitor é equilibrada e contrariada por esse desejo de reconhecimento e...

segunda-feira, 17 de maio de 2010

VERÃO 2010

Já me cheira a manjericos e a marchas populares e a casamentos de Santo António e suas comovidas noivas e a fados e a sardinhas e a avenida da Liberdade que tresanda a chinelos e a farturas e grinaldas coloridas feitas com papel de seda; já me cheira ao cheiro das bancadas de madeira ao longo da Avenida e mais o cheiro de Lisboa e mais ao longe o cheiro incrível, às vezes insuportável do Cais das Colunas e mais o cheiro das ruas das profissões, dos Sapateiros, dos Douradores, dos Fanqueiros, dos Correeiros,  cheira-me mesmo a Lisboa que é a minha cidade, a cidade onde eu nasci.
Mas o que me cheira mais intensamente, quando chego ao mês do Verão, quando é Julho, dia 20 de Julho, nada mais, nada menos que o dia 20 de Julho, é o cheiro da lembrança desse dia, em 1969, tinha eu 19 anos e andava de mão dada com Neil Armstrong, com Aldrin e com Collins.
E fui à Lua com eles. Passei essa noite inteira a observar o silêncio, a sentir a maravilha que me estava a ser oferecida embrulhada numa pequena caixa que destilava gotas de suor a preto e branco. Eu transpirava à medida que o módulo Águia se aproximava daquele chão de poeiras transparentes e finíssimas.
Quando a porta desse recipiente de lata finalmente foi aberta e dele saiu uma figura que devia ser de um homem, de um homem doutro planeta, passei a acreditar que tudo, mas tudo nesta vida era possível.

Cristina Carvalho - 17 de Maio de 2010